segunda-feira, 30 de março de 2009

Responsabilidade Social em tempo de crise

A Responsabilidade Social das empresas consiste na inserção de cuidados sociais e ambientais nas suas acções e no seu relacionamento com todas as partes interessadas, ou seja, no relacionamento com fornecedores, com clientes, com a comunidade onde se insere e, principalmente, com os seus activos, voluntariamente e de forma estratégica.

Desta forma, as organizações garantem a satisfação das necessidades dos seus clientes, gerindo conjuntamente as expectativas de todos quanto lhe são afectos, bem como os impactes ambientais da empresa.

Enquanto gestor activo, o modo de assegurar a relevância competitiva e a continuidade, a médio/longo prazo, de uma empresa, passa por satisfazer as necessidades dos seus colaboradores, clientes actuais e adquirir novos clientes, primando pela qualidade e pela diferenciação face à concorrência, desenvolvendo produtos e serviços inovadores e, sobretudo, criar valor, objectivo principal de qualquer organização que pretende ser moderna e competitiva.

Integrar a Responsabilidade Social, enquanto investimento estratégico, na política empresarial, nas ferramentas de gestão e nas operações, do ponto de vista económico, comercial e social, conduzirá a uma estratégia que, a longo prazo, minimizará os riscos decorrentes de variáveis não controláveis.

O conceito de Responsabilidade Social passa, também, pela mitigação quanto à especulação de recursos e poluição na sua interpretação mais abrangente. A redução de consumos energéticos, de matérias-primas, a reciclagem, reutilização e eliminação adequada dos resíduos produzidos assume, hoje, uma importância capital para garantir uma boa reputação, boa cidadania e sucesso no mercado, com redução de custos económicos e sociais.

O empenho continuado de uma empresa, por parte de quem a gere, boas práticas éticas a todos os níveis, respeito e sadios relacionamentos com todas as partes interessadas fará com que a empresa se integre na comunidade onde está inserida, desfrutando de uma maior credibilidade, reputação no mercado, influência na opinião pública e uma melhor contratação e fidelização por parte dos colaboradores.

No fundo, trata-se de uma forma de contribuir para a construção e desenvolvimento de uma sociedade sustentada, gerindo os impactes sociais e ambientais da organização, como forma de afiançar e aumentar a competitividade no mercado.

O significado prático da Responsabilidade Social das empresas passa por respeitar os direitos humanos, cumprimento de normas sociais, respeito pelos valores e pelos princípios éticos da sociedade em que se insere, que se reflectem na motivação dos trabalhadores e no consequente aumento de produtividade. Medidas como a formação ao longo da vida activa, da equidade relativamente à remuneração independentemente do sexo, raça ou credo e preocupações quanto à segurança no e do posto de trabalho, são fundamentais para o sucesso e competitividade, bem como da sobrevivência da própria organização em tempos de crise.

Muitas das empresas que agora passam por dificuldades, não tiveram em conta, ao longo dos anos, conceitos e prática já aqui mencionadas. A expansão económica a que se assistiu até há bem pouco tempo, provocou um desenvolvimento sem precedentes a todos os níveis, criou emprego, alargou mercados e aumentou o bem-estar de muitos cidadãos, no entanto, e por falta de regulação adequada, aumentou, também, o endividamento de muitas famílias e organizações. Assistimos, agora, à devastação de estruturas empresariais e de emprego, tendo como consequência directa uma grave crise social, aumento da criminalidade e de famílias que se vêm obrigadas a recorrer a medidas proteccionistas, como o Rendimento Social de Inserção.
É agora que se deverão analisar e avaliar as possíveis intervenções para minimizar os danos provocados pela situação económico-financeira deste Mundo cada vez mais Global, agindo localmente de forma eficaz e eficiente.

Ainda que muitas empresas possam ter necessidade de reduzir os meios humanos em processos de reestruturação e combate à crise, esta não deve ser superior ao imprescindível, isto é, não é justo nem ético que exista um aproveitamento da situação actual para despedimentos massificados e encerramentos súbitos de actividade, provocando graves problemas sociais.
Cabe ao Estado o papel regulador da economia, através de políticas económicas e orçamentais, que minimizem os impactos negativos dos ciclos económicos. Medidas como o controlo apertado das instituições financeiras, o cruzamento de dados ao nível das referidas instituições, um combate efectivo e célere à corrupção e a práticas menos éticas de gestão, poderão contribuir para o início da inversão do ciclo económico actual.

Cobranças de IVA no acto dos recebimentos e não no momento da facturação, o acerto mensal do IVA com as empresas, atribuição de créditos bonificados, principalmente PME, que representam cerca de 90% dos postos de trabalho do País, mediante planos de negócio viáveis, terão efeitos significativamente positivos na revitalização e até na sobrevivência de muitas empresas e, consequentemente, nos postos de trabalho.

Em termos locais, existem ferramentas e programas, tal como as propostas pelo vereador do PSD na Câmara Municipal do Barreiro, a que as autarquias podem recorrer para incentivar não só a recuperação e consolidação mas até a implantação de empresas na sua área de abrangência, que podem ser encaradas como investimento nos seus munícipes, no parque empresarial, perspectivando a criação de postos de trabalho.

A estratégia global a seguir terá que passar por uma forma diferente de pensar e actuar a nível político e cívico, com enfoque nas questões éticas, pela inovação e actualização de estratégias de desenvolvimento, dinâmica de serviços e até de modelos de gestão.

As actividades de futuro irão exigir a combinação dos três vectores fundamentais para o crescimento e desenvolvimento sustentável: social, económico e ambiental. O desenvolvimento das empresas com alto potencial de crescimento terá que passar pelo estabelecimento de parcerias e cooperações estratégicas público - privadas, sendo o empreendorismo e a dinâmica factores cruciais para ultrapassar a situação actual.

É fundamental investir em áreas onde os benefícios económicos, sociais e ambientais sejam efectivos, potenciando a criação de valor nas partes interessadas, sem hipotecar o futuro e que fomentem e valorizem as capacidades intelectuais e criativas das pessoas, tendo em vista uma comunidade mais ética, justa e socialmente responsável.

Olga Paredes
Presidente da Comissão Politica de Secção do PSD Barreiro

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